Verdade nas entrelinhas: a dança entre o que dizemos e o que deixamos por dizer
As palavras têm uma forma curiosa de se infiltrar nos nossos pensamentos. Às vezes, parecem pequenas e insignificantes no momento em que as dizemos, mas logo depois se tornam gigantescas dentro de nós. Elas têm um jeito sutil de moldar a maneira como enxergamos o mundo e, mais importante, como nos enxergamos. A cada conversa, a cada texto, estou sempre consciente de que as palavras que uso podem mudar o rumo de algo, mesmo que seja só um pouquinho.
Eu penso muito sobre como as palavras podem ser arma e cura ao mesmo tempo. Um “eu te amo” pode iluminar um dia inteiro, enquanto um “eu te odeio” pode apagar o brilho de semanas. Já vivi ambos os extremos e aprendi, com cada um deles, que as palavras não são só um meio de comunicação; elas carregam uma energia, uma intenção que vai além do som ou das letras que formam. Às vezes, o que não é dito tem tanto poder quanto aquilo que foi pronunciado. E isso me faz refletir sobre o silêncio, esse espaço entre as palavras onde tantas coisas acontecem.
Escrever, para mim, é a única forma de tentar domar essa força. É uma tentativa de organizar os pensamentos, de encontrar clareza no caos que a vida às vezes traz. As palavras no papel me dão um certo controle, como se eu pudesse moldar, com cada frase, aquilo que sinto. Eu já passei muito tempo tentando escolher as palavras certas para momentos cruciais, acreditando que, se as encontrasse, conseguiria mudar algo. Às vezes, isso funcionou. Outras vezes, me dei conta de que algumas situações pedem menos palavras e mais presença, mais silêncio.
O engraçado é que, por mais que eu ame as palavras, sei que elas também podem ser traiçoeiras. Elas têm limites, e nem sempre conseguem traduzir o que se passa aqui dentro. Já me vi em situações onde nada do que eu dissesse parecia suficiente para expressar o que eu realmente sentia. É frustrante, porque é como se houvesse um abismo entre o que quero dizer e o que consigo transmitir. Nesses momentos, percebo que as palavras, por mais poderosas que sejam, têm suas limitações.
Eu percebo que, às vezes, me apego demais a elas. Fico presa em conversas antigas, relembrando diálogos que, de alguma forma, marcaram um ponto na minha vida. Como quando alguém disse algo que me machucou, e, mesmo sem querer, essas palavras ficam ecoando na minha mente. Ou quando alguém me elogiou de um jeito que eu nunca tinha escutado antes, e aquilo ficou comigo como um lembrete silencioso de que sou capaz. As palavras têm essa habilidade estranha de se agarrar à gente, de se fixarem na memória e voltarem quando menos esperamos.
E não é só o que ouvimos, mas também o que dizemos. Eu já me peguei refletindo por horas sobre algo que disse no calor do momento, desejando poder voltar atrás e reformular, ou, quem sabe, ficar em silêncio. Porque a verdade é que, uma vez ditas, as palavras ganham um poder que a gente não controla mais. Elas podem confortar, mas também podem ferir, e eu sinto essa responsabilidade quando falo. Talvez seja por isso que eu tento escolher minhas palavras com cuidado, sabendo que cada uma delas pode deixar marcas em quem as recebe.
Mas ao mesmo tempo, eu sei que não posso me prender demais a isso. As palavras são só uma parte daquilo que somos. Às vezes, o que sentimos é tão profundo, tão complexo, que não há palavras no mundo que possam traduzir com precisão. Já me encontrei sem fala diante de certas emoções, e por mais que eu tente, nunca consigo encontrar a expressão exata. Nessas horas, o silêncio parece mais honesto, porque ele aceita o fato de que nem tudo precisa ser dito para ser entendido.
Ainda assim, continuo acreditando no poder das palavras. Elas são nossa maneira de dar forma ao caos, de transformar pensamentos abstratos em algo que possa ser compartilhado. E, por mais que falhem às vezes, ou que não consigam capturar toda a intensidade de um sentimento, eu ainda me agarro a elas como uma forma de entender o mundo e a mim mesma. As palavras são a minha âncora, o jeito que encontrei para me conectar com os outros e, ao mesmo tempo, me expressar. E acho que, no fim das contas, é isso que importa. Elas podem não ser perfeitas, mas são o que temos, e isso já é o bastante.